A Biblioteca da Biblioteca Central de Marinha (BCM-BL) conta com mais de 60 mil títulos sobre os mais variados temas para o estudo da História dos Descobrimentos e Expansão, Astronomia, Geometria, Geografia, Cartografia e outros Assuntos do Mar. As origens dos nossos fundos têm múltiplas proveniências, sendo que, no caso dos fundos reservados, é de destacar a relevância dos espólios procedentes das bibliotecas dos conventos das Ordens Religiosas, extintas em Portugal em 1834.
No mês de junho damos a conhecer uma das principais obras para o estudo de Expansão Portuguesa, a coleção Décadas da Ásia: Dos feitos que os Portugueses fizeram no descobrimento e conquista dos mares e terras do Oriente, da autoria de João de Barros e Diogo do Couto, edição de 1778.
Este projeto historiográfico narra a presença portuguesa na Ásia de 1498 a 1600 e encontra-se dividido em 12 décadas. A iniciativa da redação desta obra fora proposta por D. Manuel I, no último ano da sua vida, a João de Barros. Este cronista idealizou uma obra que se dividia em três momentos – A Conquista, A Navegação, e A Geografia – nos quatro continentes. Deste plano inicial apenas chegou aos dias de hoje a primeira parte, a Conquista, dedicada ao Oriente – 4 primeiras décadas da coleção Décadas da Ásia de João de Barros. Em vida de Barros foram publicados em Lisboa três volumes: a Primeira Década em 1552; a Segunda Década em 1553; e a Terceira Década em 1563. A Quarta Década, que Barros deixou em manuscrito quando morreu em 1570, foi publicada anos mais tarde pelo cosmógrafo português João Baptista Lavanha, em Madrid, em 1615.
Em 1589, por carta, Diogo do Couto propõe-se a Filipe II, primeiro de Portugal, para redigir uma “Crónica Geral da Índia”. Aquele monarca aceita em 1596 e Couto retoma, pelos mesmos moldes de narrativa em décadas a obra de João de Barros. A primeira que compôs foi a décima década, por começar no dia em que Filipe fora jurado rei, sendo que, entre 1596 e 1598, compôs as Décadas Quarta, Quinta e Sexta. Escreveu um total de nove Décadas.
As Décadas da Ásia incluem relatos de ações militares e políticas dos portugueses no “ecossistema” Ultramarino do oriente, bem como descrições geográficas e da própria história oriental. É ainda de destacar a metodologia utilizada, nomeadamente por João de Barros, ao utilizar fontes de uma elevada diversidade, particularmente de origem oriental, algo revolucionário na cronística portuguesa da época.
Como material historiográfico é importante olhar criticamente para esta obra, pois foi elaborado num período de legitimação das diferentes empresas no Oriente, destacando-se uma atitude seletiva das conjunturas. Não obstante, trata-se de uma fonte extremamente importante para o período envolvido.