Símbolo do profissionalismo e excelência cultural da Marinha
“…E eles começaram logo a tanger quatro ou cinco flautas…E o capitão-mor mandou tanger as trombetas, e nós em os batéis bailávamos, e o capitão-mor também de volta connosco.”, in Diário de Vasco da Gama.
Ao longo dos mais de quinhentos anos de existência de formações musicais na Armada, estas sofreram inúmeras alterações, da designação ao número de elementos que as constituíram, tornando uma enumeração exaustiva praticamente impossível, até por manifesta ausência de informação fidedigna. Na realidade, as fontes históricas só são razoavelmente seguras sobre esta matéria a partir da primeira metade do século XVIII, e indicam que, em agosto de 1740, existia na Armada Real uma música intitulada “Charamela”. O seu aparecimento coincide com um dos períodos áureos da música em Portugal, em que a Orquestra de Câmara da Rainha D. Maria I apenas era suplantada, em dimensão e qualidade, pela do Papa. Do primeiro maestro de que há memória histórica, Caetano Tozzi, apenas se sabe que era italiano e músico da Câmara Real.
A 27 de novembro de 1807, durante as invasões napoleónicas, a Banda da Brigada Real da Marinha acompanhou D. João VI e a Família Real na sua retirada para o Brasil. Tinha como regente o italiano Pascoal Corvalini. Em 1821, quando o soberano regressou ao reino, voltaram apenas dois dos músicos, tendo os restantes sido integrados na Armada Brasileira, criada por D. Pedro. Em 1863, a Charanga, constituída por 27 executantes e dirigida por Arthur Reinhardt, acompanhou D. Fernando II a Bordéus, a bordo da Corveta “Mindelo”. É da responsabilidade deste monarca a vinda para Portugal do maestro Mark Holzel, que passou a ser responsável pela direção de 20 músicos do Batalhão Naval.
Em 1922 a Banda dos Marinheiros da Armada integrou a viagem oficial do presidente António José de Almeida, a bordo do navio “Porto”, para participar nas comemorações do 1º Centenário da Independência do Brasil. Realizou diversos concertos no Rio de Janeiro, com retumbante sucesso do público e da crítica, tendo como chefe o Capitão-tenente (CTEN) Artur Fernandes Fão. Durante os 35 anos da sua regência (1920-1955), a Banda dos Marinheiros da Armada é referida em múltiplas Leis e Decretos-Lei, que provocam diversas reestruturações, abrangendo a designação, a composição, a forma de admissão e os ajustamentos salariais dos músicos.
Muitos foram os navios da Armada que fizeram uso de charangas e fanfarras. Exemplo disso é a viagem de 1955 à Índia, a bordo do “Bartolomeu Dias”, em que se salienta a atuação da charanga no desfile de homenagem a Afonso de Albuquerque, em Damão. Esta viagem ficou imortalizada na magistral descrição de Urbano Tavares Rodrigues, no livro “Jornadas no Oriente”. Na memória de muitos ficou também o conjunto musical “Os Náuticos” que, no início da década de 70, atuou para as forças militares estacionadas nas províncias ultramarinas. Ao longo de quase dois anos percorreram a Guiné, Cabo Verde, Angola e Moçambique, em várias digressões a bordo do navio mercante “Vera Cruz” e em unidades navais.
No início da década de 80, sob a direção do CTEN Manuel Maria Baltazar (1976-1987), a Banda da Armada ganhou uma consistente visibilidade junto da sociedade civil, constatando-se a sua merecida inclusão no grupo das melhores bandas do país. O contacto sistemático com o grande público foi o início de uma longa sucessão de salas cheias e extraordinárias inovações, prestigiando a Marinha através do virtuosismo, dedicação e talento dos seus músicos. Na década seguinte, já com o Capitão-de-fragata (CFR) José Joaquim Araújo Pereira como maestro (1987-2006), empreendeu várias deslocações pelo país e pelo estrangeiro, todas com grande sucesso. Destacam-se as atuações a França, por ocasião do 5º Festival Internacional de Música Militar e aos EUA, onde participou no XII Festival Internacional das Azáleas. Em 1998, atuou nas Bodas de Diamante do IPO e em diversos eventos no âmbito da Expo 98, entre os quais dois concertos que foram aplaudidos em apoteose por milhares de pessoas. Já sob o comando do Capitão-de-fragata (CFR) Carlos Silva Ribeiro (2006-2010), destacam-se as atuações no 44º Musikschau der Nationen em Bremen – Alemanha, bem como no concerto integrado na “Festa da Primavera” realizado no grande auditório do CCB.
Em todas as atuações, a Banda da Armada enalteceu a música portuguesa, demonstrando a sua vocação de serviço público e o papel fundamental na preservação da tradição musical nacional. Por isso, em 1999, foi-lhe concedida a Medalha de Ouro dos Serviços Distintos pelo Almirante CEMA. No seu louvor, enalteceu o “notável desempenho, inexcedível dedicação e vontade de bem servir, graças ao profissionalismo e excelência dos seus músicos, do qual resultou lustre, honra e prestígio para a Marinha.”
Desde 2011, a direção da Banda da Armada está a cargo do CFR Délio Alexandre Coelho Gonçalves, que na linha dos seus antecessores, a tem conduzido por padrões de alta qualidade e eficiência, executando programas atrativos e de reconhecida qualidade técnica, obtendo significativos êxitos e suscitando o mais vivo e caloroso entusiasmo das audiências.