A evolução da arma obrigou a uma mais cuidada e especializada formação do pessoal que a guarnecia e dos comandantes que dela poderiam tirar decisivos efeitos tácticos.
A artilharia ainda era, naquele tempo, a única arma que contribuía, a par das qualidades náuticas e capacidade de manobra, para a classificação dos navios.
Mas a instrução de Artilharia continuava mal coordenada e realizava-se em períodos distintos, uns em terra, outros a bordo. A fragata Princesa do Brasil teria sido o primeiro navio usado para o ensino prático de Artilharia, em fevereiro de 1797.
Reorganizando e centralizando o ensino, em 29 de julho de 1863 foi criada a Escola Prática de Artilharia Naval, que ficou instalada a bordo da nau Vasco da Gama. Logo dois anos depois, em 12 de setembro de 1865, foi transferida para a fragata D. Fernando II e Glória, onde se manteve por setenta e dois longos anos, até 3 de dezembro de 1937, apenas com uma pequena interrupção, em 1866.
Anualmente, e para efeitos de instrução dos alunos da Escola Naval, a fragata deslocava-se a reboque para a Trafaria, onde permanecia por 45 dias numa amarração fixa já preparada para este efeito. E ali se estabeleciam alvos para exercício de tiro. Embora amarrada no Tejo, os aspirantes só podiam vir a terra umas duas vezes (de 15 em 15 dias). O navio tinha aguada para 300 pessoas durante seis meses, mas a barcaça do Arsenal vinha encher-lhe os tanques todas as semanas. Os serviços funcionavam como a navegar. Deste modo, para os aspirantes, a passagem pela fragata representava, para além de um período de exercícios de tiro numa escola prática, o primeiro contacto com a vida e com os serviços de bordo. Como escreveu D. Bernardo da Costa Mesquitella, um dos que frequentaram aquele estágio, “os 45 dias que os aspirantes ali passaram era um bom começo de vida para os habituar às inconstâncias do rancho, ao serviço de bordo e outras coisas".
Note-se que neste período em que a Escola de Artilharia funcionou na fragata ocorreram o fim da Guerra Civil Americana (1861-5), a expansão russa na Ásia (1858-75), a guerra da Unificação Alemã (1866), a Franco-Alemã (1870-71), a Russo-Turca (1877-8), a Anglo-Egípcia (1882), a da Bulgária (1886), a Sino-Japonesa (1894-95), a Hispano-Americana (1898), a dos Boers na África do Sul (1899-1902), a dos Boxers na China (1900-01), a Russo-Japonesa (1904-5), a Revolução Russa (1905-6), a Revolução Chinesa (1911), a guerra Italo-Turca (1911-12), a primeira guerra dos Balcãs (1912), a segunda guerra dos Balcãs (1913), a Primeira Grande Guerra (1914-18) e ainda o início do rearmamento mundial que precedeu a Segunda Guerra Mundial.
A evolução da Artilharia, e aliás, de todo o armamento, foi profunda e rápida. O papel da Escola Prática de Artilharia Naval instalada na fragata D. Fernando foi, na época, muito importante.
Fonte: António Emílio Ferraz Sacchetti - livro: D. Fernando II e Glória