António Luciano Estácio dos Reis nasceu a 27 de setembro de 1923, e desde muito cedo sentiu uma grande atração pelo mar e pela Marinha. Após efetuar os estudos preparatórios na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Estácio dos Reis ingressou na Escola Naval em 1943, tendo como grande motivação a possibilidade de poder embarcar no navio-escola “Sagres”.
Durante a sua longa carreira naval embarca, a partir de 1946, em vários navios da Armada e executa diversos cargos de relevo em terra, tendo sido Ajudante-de-campo do governador de Macau de 1951 a 1953, capitão dos portos Moçambicanos de Chinde em 1959, de Quelimane em 1960 e Chefe de Estado-Maior da Flotilha de draga-minas em 1964. Em 1968 vai prestar serviço na Missão Militar Portuguesa da Nato em Bruxelas. Volta a África em 1972 para chefiar o Estado Maior do Comando Naval de Moçambique. De regresso a Lisboa após a Revolução de 25 de abril de 1974, assume a chefia da 1ª Divisão do Estado Maior da Armada. Foi comandar a Força Naval Portuguesa em 1976 e, no ano seguinte, é designado para o cargo de Adido Naval na Embaixada de Portugal em Paris.
Na capital francesa contacta com as últimas novidades da Ciência e da cultura europeia e mundial. Cruza-se com várias personalidades, entre elas François Bellec, oficial da Marinha francesa e diretor do Museu Naval de Paris, com quem estabelece uma sólida amizade. Esta experiência permite-lhe adquirir uma diferente perceção da importância da museologia e da necessidade de valorizar o património náutico e científico. Em setembro de 1979, ainda em Paris, passa à reserva.
Assume o cargo de adjunto do Diretor do Museu de Marinha em 1980, exercendo interinamente durante três meses, o cargo de Diretor. É no Museu de Marinha que conhece o comandante Teixeira da Mota, investigador e académico, que o incentiva a investigar e a publicar os seus próprios textos. Organizou várias exposições e efetuou inúmeros estudos. Neste período são incorporados na coleção do museu os primeiros astrolábios náuticos, após o próprio Estácio dos Reis ter identificado essa lacuna. A sua participação num programa de rádio, em que descreveu o que era um astrolábio e, o seu apelo aos ouvintes para que verificassem se não teriam um objeto desse tipo em casa, foi uma iniciativa feliz e com bastante sucesso.
Estácio dos Reis foi autor de uma importante obra no campo da História da Ciência, nomeadamente no estudo dos instrumentos matemáticos e científicos, com destaque para os instrumentos náuticos, permitindo-nos afirmar que o seu contributo para a preservação da memória nacional associada ao mar é a grande marca do seu legado. Faleceu a 2 de março de 2018.