Durante as campanhas oceanográficas que realizou na costa portuguesa entre 1896 e 1907, o Rei D. Carlos deu especial atenção ao estudo dos peixes e da atividade piscatória em Portugal.
Procurando aprofundar o seu conhecimento sobre os problemas da pesca, D. Carlos estabeleceu estreitas relações com os pescadores. Esta curiosa faceta do Rei é referida pelo seu conselheiro científico, o naturalista Alberto Girard (1860-1914): "D.Carlos tratava de conviver com os pescadores, com essa classe obscura de valentes que alimenta uma das nossas principais industrias. Ouvia-os no seu contar pittoresco, pedia-lhes que lhes fornecessem as fórmas animadas que impressionassem a sua vista, tomava nota de todas as informações que interessassem a captura, e, sem o pretender, captivava-os, fazia-os a todos amigos." (Girard, 1910).
A forma inteligente de aproveitar este convívio está bem ilustrada pela utilização do "ESPINHEL", aparelho de pesca com o qual capturou a maior parte dos exemplares, alguns deles exemplares raros e novos para a Fauna Marinha Portuguesa.
Podemos ainda citar o exemplo do estudo que realizou sobre a problemática da pesca de arrasto por meio de navios a vapor, procurando encontrar resposta para os receios dos pescadores que receavam a exaustão dos recursos marinhos.
A importância económica da pesca do atum mereceu também particular atenção da parte de D. Carlos que organizou um rigoroso programa de investigações na costa algarvia, no âmbito desta atividade.
A ligação que D. Carlos soube criar com os pescadores de todo o país criou ainda a oportunidade da descoberta de novos e raros exemplares de diferentes grupos de animais que foram oferecidos ou adquiridos e passaram a integrar a Coleção do Museu Oceanográfico D. Carlos I, hoje conservados no Aquário Vasco da Gama.