Alguns exemplares da Coleção do Museu Oceanográfico D. Carlos I são naturalmente mais emblemáticos, seja pela raridade da espécie, seja pela espetacularidade do exemplar e da sua história. É o caso do cachalote-anão Kogia breviceps capturado na praia do Estoril em outubro de 1904.
A sua captura é descrita em detalhe pelo monarca numa carta enviada ao seu amigo, Príncipe Alberto do Mónaco, a 12 de novembro. No relato percebemos que D. Carlos andaria na baía de Cascais à procura de aves marinhas para alargar a sua coleção ornitológica, quando vislumbrou um pequeno cetáceo à superfície da água.
O monarca pediu auxílio aos pescadores locais para usar uma rede e capturar o cetáceo com pouco mais de metro e meio, atirando-se à água juntamente com os seus marinheiros.
A captura revelou-se mais difícil do que o esperado tendo ficado feridos um pescador e um marinheiro. Este episódio, narrado de forma tão pitoresca na carta referida, hoje seria inaceitável à luz dos códigos de conduta para investigação de animais vivos.
Os primeiros naturalistas que se dedicaram ao estudo de espécies animais caçavam exemplares para serem estudados e expostos em coleções de história natural. Esta prática foi sendo descontinuada com o aparecimento da preocupação com a proteção dos animais e a conservação de espécies selvagens.
Na carta D. Carlos revela-se incapaz de identificar o animal. Teria pedido auxílio a Afonso Chaves, amigo naturalista dos Açores, que lhe terá enviado uma fotografia com as medidas detalhadas da espécie de cachalote Physeter macrocephalus observada nas ilhas. Mas sem conseguir resolver o enigma, escreve ao seu mentor pedindo ajuda para a identificação do “estranho cetáceo” juntando um desenho à escala.
Na resposta do Príncipe Alberto percebemos que as espécies de cetáceos que não eram exploradas comercialmente, na baleação, eram largamente desconhecidas naquela época.
O monarca refere que observou, várias vezes, durante as expedições oceanográficas cetáceos que não conseguiu identificar por não se encontrarem descritos na bibliografia existente.
Com mais de cem anos, o curioso exemplar tem sido cedido para várias exposições das quais destacamos a exposição realizada em 2017, sobre o acervo fotográfico de Francisco Afonso Chaves (1857-1926), no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC).
Nesta exposição temporária, além do cetáceo propriamente dito foram expostas as fotografias que Afonso Chaves terá enviado a D. Carlos para identificação do exemplar.
Nessa ocasião a equipa de conservação do MUHNAC realizou uma intervenção mínima sobre o exemplar que tinha como objetivo assegurar o respeito pela sua história e materialidade.