Na época em que D. Carlos de Bragança iniciou as suas campanhas oceanográficas, o fundo do mar permanecia um mistério que despertava o interesse de cientistas em todo o mundo.
D. Carlos sabia que a existência de uma zona de vales submarinos situados a pouca distância da costa portuguesa, mais precisamente ao largo de Sesimbra, oferecia um interesse excecional para a realização de um trabalho aprofundado e por isso dedicou parte das suas investigações ao estudo de espécies abissais.
Das suas investigações resultou uma coleção zoológica que representa um valoroso contributo para o inventário faunístico da costa portuguesa, incluindo algumas espécies raras e novas para a ciência.
É o caso de uma Enguia pelicano (Saccopharynx ampullaceus), encontrada a flutuar no Mar da Risca (9 milhas a sudoeste da Barra do Tejo) em 1894. Este peixe, que vive até 3000 metros de profundidade, tem uma boca enorme, com dentes desenvolvidos e o estômago elástico, capaz de digerir presas de grandes dimensões, o que lhes é muito útil num meio onde tem de aproveitar ao máximo a pouca comida disponível.
Na altura apenas havia conhecimento de um único exemplar desta espécie no Museu de História Natural de Londres, o que conferia grande valor científico à descoberta. Albert Girard, assistente naturalista de D. Carlos, desenhou e estudou minuciosamente o raro exemplar, tendo publicado o resultado da sua investigação em 1895 num artigo intitulado: “Memoire sur un Poisson des Grandes Profondeurs de l‘Atlantique, le Saccopharynx ampullaceus et observations sur l’Halargyreus johnstoni”.