A tintureira (Prionace glauca) é um tubarão que se distingue bem pelas barbatanas peitorais muito compridas e estreitas, pelo focinho e pela coloração azulada.
É uma espécie oceânica que também pode ser encontrada junto à costa. Frequenta as águas próximas da superfície, sendo possível observá-la a nadar com as extremidades das barbatanas dorsal e caudal fora de água. É um predador que persegue os cardumes de uma grande variedade de peixes e lulas de que se alimenta, aproveitando também os desperdícios lançados borda fora dos barcos de pesca.
É vivípara, ou seja, os embriões desenvolvem-se no útero materno, através de um saco vitelino placentário. Após 9-12 meses de gestação nascem as crias, em número muito elevado (podendo chegar a 80), com 35-45 cm de comprimento total. Os adultos podem chegar a atingir 4 metros de comprimento total.
A Coleção do Museu Oceanográfico D. Carlos I inclui duas tintureiras naturalizadas. Mas há um exemplar conservado em meio líquido que se destaca pela sua raridade e pela originalidade. Trata-se de uma tintureira com deformações na zona da cabeça, que lhe conferem um aspeto completamente distinto das outras.
O exemplar foi fotografado no estúdio Photographia Helios, levando-nos a pensar que terá despertado a atenção de D. Carlos. Mais tarde foi estudado por Balthazar Osório, diretor da secção zoológica do Museu Bocage, que o descreve num artigo publicado em 1909: “A lenda dos Homens marinhos perante as Sciências Naturais”. Neste interessante artigo, Osorio desmonta a lenda da existência de homens marinhos, apresentando a hipótese de que esta fantasia se devia à observação de animais que de alguma forma poderiam ter algumas semelhanças com a fisionomia humana, confundindo assim os observadores. E, muito curiosamente, apresenta o exemplo desta tintureira, cuja deformação na zona da cabeça pode fazer lembrar o fácies humano.
Este exemplar é por isso mais um dos tesouros da Coleção do Museu Oceanográfico D. Carlos I.