A palheta é imprescindível ao oboísta, tendo muitas vezes um papel fulcral na sua performance. A procura da combinação perfeita entre conforto, estabilidade, articulação, flexibilidade e sonoridade, é uma constante preocupação no quotidiano de um oboísta. Devido à natureza instável da cana utilizada na construção de palhetas, este material condiciona diversos aspetos da performance musical: competências técnicas (articulação, timbre, flexibilidade), postura, aspetos emocionais, (ansiedade, autoconfiança, concentração) sendo muitas vezes o fator fulcral na prestação em palco.
Enquanto oboístas, a confeção de palhetas é uma prática integrante do quotidiano, a par com o desenvolvimento técnico do instrumento.
Sendo o oboé um instrumento que surgiu há mais de 300 anos (Cicolani, 2015; Skidanova, 2014) e tendo aparecido depois da charamela em meados do século XVII (Cicolani, 2015; Conceição, 2015), este é um instrumento que foi sofrendo várias alterações que o trouxeram até à forma em que o conhecemos atualmente (Burgess & Haynes, 2004). Relativamente à sua palheta, pode observar-se uma clara diferença entre aquelas que eram utilizadas há vários séculos e aquelas que são utilizadas nos dias de hoje (Burgess & Haynes, 2004; Burgess & Hedrick, 1989). Ledet (2008) atribui duas razões diferentes a esta evolução: a procura por parte do oboísta de um timbre idealizado, por vezes influenciado pela opinião do ouvinte e na tentativa de uma maior aceitação social das suas competências performativas; e a necessidade da existência de uma técnica adequada que permita ao oboísta expressar-se devidamente e de acordo com o seu gosto musical.
Relativamente à confeção de palhetas, é conhecido o facto da existência de vários construtores das mesmas durante os séculos XVIII e XIX que utilizavam a sua confeção como negócio (Burgess & Haynes, 2004; Burgess & Hedrick, 1989).
De acordo com Burgess & Haynes (2004, citando Étienne Ozi, 1803), naquela época predominava a ideia de que a confeção de palhetas estava associada à construção de instrumentos e não à performance instrumental.
A partir do século XX, apesar de ainda haver quem comprasse as suas palhetas pré-confecionadas, acentuou-se a tendência do oboísta profissional dominar a confeção das mesmas (Conceição, 2015). Esta tendência tem-se estendido até à atualidade, onde é expectável que o instrumentista conheça o processo de confeção de palhetas e que seja capaz de realizar os ajustes necessários às mesmas (Conceição, 2015).
Girard (1983) afirma que a posição da palheta na boca, a forma e resistência dos lábios do instrumentista e a pressão de ar aplicadas, a forma da cavidade oral, os dentes e a língua ao serem diferentes em cada individuo, influenciarão a produção e a qualidade sonora.
Dos três elementos – oboé, palheta e oboísta – a palheta é o mais frágil e instável. As fibras são facilmente afetadas pela acidez da saliva tornando-se irregulares e vulneráveis. A ponta, extremamente fina é facilmente destruída com um golpe nos dentes, língua ou algum objeto. Se tocamos consecutivamente sem lhe dar descanso, a palheta perde flexibilidade. (Girard, 1983)
Rothwell (1982) afirma que esta palheta “perfeita" é muito rara de encontrar, mas palhetas imperfeitas podem ser melhoradas através da raspagem, daí ser benéfico adquirir uma boa técnica de raspagem. Assim, esta palheta deve ter uma boa qualidade sonora, afinação, um ataque fácil em piano e forte, e crescendo e diminuendo fáceis no registo todo o instrumento e em qualquer dinâmica.
Autora: CAB B Ana Catarina Aguiar