Sacadura Cabral, oficial da Marinha pioneiro da aviação militar em Portugal e Gago Coutinho, também oficial da Marinha mais vocacionado para a cartografia e navegação, desde 1919 que em conjunto iniciaram a preparação de uma longa viagem aérea, que teria como objetivo a travessia aérea do Atlântico Sul, ligando Portugal ao Brasil. Nessa preparação, Sacadura Cabral ficou encarregado da escolha da aeronave indicada, um hidroavião Fairey III D, assim como todas as modificações necessárias para a realização da viagem, enquanto Gago Coutinho foi aperfeiçoando diversos instrumentos e técnicas de navegação aérea, incluindo a criação do sextante de horizonte artificial, essencial para a orientação sobre o oceano.
Devido às limitações da autonomia pelo combustível, a viagem teve de se realizar por etapas, pelo que o início da longa viagem teve lugar em Lisboa, de onde partiram a 30 de março de 1922 rumo ao porto de La Luz, no arquipélago das Canárias, num voo que durou 8 horas. Daí, partiram da baía de Gando a 2 de abril com destino a Mindelo, em Cabo Verde, onde chegaram após 10 horas de voo e tiveram de realizar algumas reparações e uma revisão à aeronave. Como consequência do aumento do consumo esperado de combustível, não conseguiram voar diretamente até Fernando de Noronha, pelo que se impôs partirem de Praia no dia 18 de abril rumo aos Penedos de S. Pedro e S. Paulo, chegando após 17 horas de viagem e no limite das reservas de combustível.
Aquando da amaragem junto a um navio da Marinha, um dos flutuadores do hidroavião partiu-se e este acabou por se afundar, de onde só recuperaram os seus pertences pessoais. Levados pelo navio da Marinha até Fernando de Noronha, aí aguardaram na residência do diretor do presídio da ilha pelo segundo avião que foi levado de Portugal até eles, que chegou no dia 8 de maio. No dia 11 partiram de Fernando de Noronha até aos Penedos, lugar do acidente e onde tinha terminado a viagem, para a retomar, porém assim que partiram uma avaria obrigou-os a amarar no mar, sendo que foram salvos por um cargueiro que transitava nas proximidades. Assim, de Portugal foi enviado um terceiro hidroavião, que chegou no dia 2 de junho e partiu no dia 5 rumo a Recife e daí junto à costa até Rio de Janeiro, destino final da viagem que atingiram no dia 17.
Um feito aéreo desta envergadura, suscitou grande admiração pelo público dos dois países, com homenagens, sessões solenes e jantares, como também um pouco por todo o Mundo, sobretudo nos meios de comunicação. Também se destacam os inúmeros telegramas de felicitação que o governo português e os aviadores receberam por parte de altas entidades e pessoas comuns de um pouco de todo o mundo, congratulando-os por tal feito.
Instrumentos de navegação como o sextante de horizonte artificial e outros métodos de navegação aérea desenvolvidos por ambos, permitiram à aviação militar e civil navegar com muito mais precisão e segurança no futuro e contribuíram para o desenvolvimento da aviação como a conhecemos hoje.