A Biblioteca da Biblioteca Central de Marinha (BCM-BL) conta com mais de 60 mil títulos sobre os mais variados temas para o estudo da História dos Descobrimentos e Expansão, Astronomia, Geometria, Geografia, Cartografia e outros Assuntos do Mar. As origens dos nossos fundos têm múltiplas proveniências, sendo que, no caso dos fundos reservados, é de destacar a relevância dos espólios procedentes das bibliotecas dos conventos das Ordens Religiosas, extintas em Portugal em 1834.
No mês de novembro damos a conhecer o Atlas mais antigo que a BCM preserva — Theatrvm Orbis Terrarvm, da autoria do cartógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527-1598), datado de 1584, escrito em latim, e impresso na Antuérpia. Pertenceu à livraria do convento dos Carmelitas Descalços de N. S. dos Remédios de Lisboa.
O Theatrum Orbis Terrarum é considerado o primeiro Atlas autêntico da História, visto que se trata da primeira coleção com uma metodologia de mapas de estilo uniforme. No verso de cada mapa, surge uma descrição de cada uma das regiões e países, assim como informações sobre o seu clima, gastronomia e costumes. Os eruditos contemporâneos de Ortelius, como Gerardus Mercator ou Georg Braun, elogiaram o Theatrum pela sua extraordinária exatidão e começaram a adotar o seu formato. Foi desta forma que a cartografia introduziu o conceito de "Atlas". Em 1575, Felipe II de Espanha, (futuro Filipe I de Portugal), a quem Ortelius dedicou a sua obra, nomeou-o "Cosmógrafo Real de Sua Majestade". Este trabalho incluiu mapas produzidos por cartógrafos provenientes de vários reinos e foi publicado em diversas edições entre 1570 e 1612, em latim, holandês, alemão, francês, espanhol, inglês e italiano.
Neste Atlas encontra-se representado o mais antigo mapa, impresso, de Portugal, de autoria atribuída a Fernando Álvares Sêco. Deste autor pouco dizem os bibliófilos, apenas Barbosa Machado adianta que foi “Matemático insigne e famoso geógrafo, de cuja ciência deu um manifesto argumento em o Mapa que fês do reino de Portugal”. Saiu de Portugal com o título Tabula Geografica Portugalliae e foi publicado em Roma em 1561. Muito se pode anotar a propósito do primeiro mapa de Portugal, nomeadamente a divisão do território e sua toponímia, e até mesmo a importância atribuída a certas regiões.