O mar há muito que inebria os portugueses, naturalmente nem sempre todos, visto ser a costa portuguesa uma costa difícil, de mar revolto, com escassíssimos portos naturais, e mesmo para quem gosta de se molhar, nos dias de hoje, de águas frias até ao sotavento algarvio, que em nada convidam a banhos.
A história que Rui Olivença nos traz diz respeito ao naufrágio do Batávia em junho de 1629, nos recifes das Ilhas Houtman Abrolhos. Um grupo de ilhéus de coral, a cerca de oitenta quilómetros do litoral ocidental australiano, na atualidade o Estado da Austrália Ocidental. Uma história já várias vezes evocada, uma espécie de bestseller nos relatos da época, mas reproduzida pelo Mestre Rui Olivença a partir da leitura do relato do sinólogo belga Simon Leys, pseudónimo de Pierre Ryckmans, intitulado "Os Náufragos do Batávia".
A complexa, ingrata, que era a experiência de viajar e trabalhar num navio relativamente pequeno, atulhado de gente, em condições insalubres para a esmagadora maioria da tripulação, numa travessia de 15 000 milhas marítimas de Roterdão a Java é-nos singularmente dada pela pintura muda e diria mesmo opaca com que os elementos, nomeadamente o mar, mas também a azáfama gajeira a bordo nos é apresentada por Rui Olivença.
O naufrágio do Batávia não foi uma mortandade pelo desastre, porque uma grande maioria dos naufragados se salvaram do mar. O morticínio ocorreu através de uma chacina provocada pelos próprios sobreviventes nas ilhas, que ficou para os anais. (*)
O “Mar que nos inebria”, é uma exposição temporária patente no Museu de Marinha, no Pavilhão das Galeotas, da autoria de Rui Olivença, de 10 de outubro a 9 de dezembro de 2024 e que este Museu convida os interessados a visitar