No dia 8 de maio de 1920, o Comandante Sacadura Cabral iniciava a sua primeira grande viagem aérea, um voo de Calshot (Reino Unido) para Lisboa, que apesar dos inúmeros imprevistos e dificuldades, proporcionou ao aviador uma valiosa experiência que lhe o fez acreditar que o seu projeto da Travessia Aérea do Atlântico Sul seria exequível.
Nos finais de 1919, Sacadura Cabral seguiu para Inglaterra para adquirir hidroaviões dos stocks britânicos dos excedentes de guerra. A escolha recaiu sobre dois Felixstowe F.3, um hidroavião de coque propulsionado por dois motores Rolls-Royce Eagle VIII de 350cv, eventualmente as melhores aeronaves de patrulha marítima da Grande Guerra. Estes Felixstowe com o registo “N.4017” e “N.4018” eram praticamente novos e foram reparados e aprontados pela Fairey Aviation Co., que mais tarde viria a construir os emblemáticos hidroaviões da Travessia do Atlântico Sul.
Em finais de abril, as aeronaves estavam prontas e constituíram-se as seguintes tripulações para as voar para Portugal:
- Hidroavião “N.4017”: Capitão-tenente Sacadura Cabral (piloto comandante); Segundo-tenente Azevedo e Silva (segundo piloto); Roger Soubiran (mecânico de voo); Primeiro-marinheiro José Barreiros (mecânico auxiliar).
- Hidroavião “N.4018”: Primeiro-tenente Pedro Rosado (piloto comandante); Primeiro-tenente Santos Moreira (segundo piloto); Primeiro-tenente EMQ Ernesto Costa (mecânico de voo); Segundo-marinheiro David dos Santos (mecânico auxiliar).
Quer fosse pela meteorologia adversa ou avarias, as aeronaves acabaram por voar quase sempre separadas e com escalas diferentes, tendo o “N.4017” feito o trajeto Brest – Hourtin - El Ferrol - Lisboa, enquanto o “N.4018” voou Brest -Caminha - Lisboa. A viagem, que fora planeada para três dias, foi concretizada em oito, mas ambas as aeronaves amararam em segurança em Lisboa no dia 16 de maio de 1920, com cerca de uma hora de diferença.
Esta viagem, que foi a segunda vez em que se sobrevoou a Biscaia, deu a Sacadura Cabral a confiança de que com um método de navegação rigoroso e um bom conhecimento das condições meteorológicas seria possível sobrevoar o Atlântico Sul até ao Brasil. Como ele próprio a descreveu no seu relatório “viagem esta que se não constitui um facto extraordinário também não pode se considerada banal.”
Colaboração: Capitão-de-fragata Hugo Baptista Cabral